domingo, 28 de novembro de 2010

Por que gosto de ler?

Desde sempre que me têm dito que leio muito. Chegam até a perguntar-me como é possível que leia tanto! Como é que arranjo, para além de tempo, vontade?
Há sempre aquelas respostas, do género, "a leitura cultiva-se", ou, " tens que começar a ler de pequenino para gostares de ler em adulto", entre outras.
Não concordo integralmente com isto.
É verdade que comecei a ler em pequena, com alguma assiduidade. Mas não é isso que me faz gostar de ler agora. Gosto de ler pela sensação que o livro proporciona.
Vejamos: ler um romance histórico, por exemplo, teletranspota-nos para um sítio totalmente diferente do que vivemos agora, para batalhas, para romances indescritíveis e coincidências demasiado coincidentes. Quando lemos uma biografia, parece que falamos com o autor, que ele nos comunica os seus maiores medos, que ele têm uma conversa franca connosco. Entre outros géneros, do que gosto mesmo é de sair da realidade de uma forma intensa. E só consigo encontrar essa saída através dos livros e através do cinema. Alguns músicos também proporcionam isso. Pensando bem, quase tudo o que é abrangido pela palavra "Arte" proporciona experiências incríveis. Experiências do não-real, claro, que nos aumentam os sonhos e que alimentam a esperança.
Não nos desviemos do tema, que ultrapassa muito a leitura, tocando em experiências "pararealidade". Na verdade, do que gosto mesmo é de viver no real (??) mas de ter experiências fora dele, como pequenos escapes. E é isso que a leitura me proporciona.
Não leio para ser mais culta, muito menos para alargar o meu vocabulário.
Leio essencialmente para ter uma conversa mais ou menos sussurrada com a mente do autor, tentando compreender um bocadinho da realidade ilusória imaginada por ele. E isto, o cinema ou a televisão não pode proporcionar, porque nos dão imagens já feitas e nós só as absorvemos. Daí que acho a leitura bastante mais rica. Sendo uma situação inventada ou relatada pelo autor, podemos expandi-la na nossa cabeça e abarcar uma outra série de conceitos que se encaixam no pensamento do escritor.
Portanto, quando nos mandam ler uma qualquer obra e quando me respondem "eu gosto de ler, mas não gosto de ler o que me mandam. Porque se lesse o livro X de livre vontade, já ia gostar, de certeza" eu acho uma estupidez. Quando nos mandam ler, só querem que saiamos da realidade por um bocadinho e que vejamos que aquilo que não acontece, é verosímil nos livros.
Leiam, leiam! Ao menos, sempre podemos sair um bocadinho deste país e dos vómitos mentais que são transformados em discursos pelos senhores deste país.
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