domingo, 23 de outubro de 2011

Já te amo... e tu ainda nem existes



O frio tardou em chegar, mas chegou em grande estilo. Quando começa este tempo outonal, fico sempre com vontade de levar uma luzinha para a rua, levar um casaquinho e uma mantinha e ler encostada a alguém. Não tem que ser a pessoa com quem namoro, mas alguém em quem eu tenha confiança, de forma a que o quente físico seja também um quente interior. E imagino que quero umas bolachas com recheio de chocolate para ir petiscando sem me preocupar com a quantidade de calorias que cada uma delas tem. Imagino que o tempo que passa me é indiferente e que, portanto, o vejo como um todo. Acho que por aqui já tinha mencionado a minha necessidade de ter filhos. É quase tão obrigatório para mim como respirar. E é engraçado, porque me lembro perfeitamente de dizer que não os queria ter, à minha professora da escola primária e de ela dizer que quando eu tivesse dezoito ou dezanove anos, ia pensar de outra forma. Quase que lhe roguei pragas mas devo admitir que ela tem razão. Dez anos depois, confirmou-se o que ela disse. O melhor de tudo é que imagino gritarias, imagino birras, imagino crianças bem chatinhas e... na minha imaginação, não me canso delas. No entanto, suspeito que não vai ser nada assim. Que vamos brigar porque eu digo que está frio e ele(s) não quer(em) vestir o casaco, porque é hora de dormir, porque isto e por aquilo. Mas há algo nessas brigas que me vai deixar ansiosa e feliz.

O meu maior medo em relação a este assunto é não conseguir educar bem. Pior, é se eu der o meu melhor e a pessoa não se tornar numa boa pessoa. Se eu não conseguir compreendê-la da mesma forma que eu exigi que os meus pais me compreendessem e eles não o faziam porque não conseguiam. Acho que desejo ser uma mãe omnisciente e isso não vai acontecer. É exatamente por essa razão que tenho medo. Não sei se uma frase que eu disser lhes vai ficar marcada para sempre e se um dia mais tarde não a vão dizer aos seus filhos para descreverem os seus maus momentos de infância. É certo que se queremos ter filhos, temos que estar abertos a essa possibilidade, mas não haverá uma maneira de controlar?

Claro que sonho sempre com crianças bem sucedidas, adultos perfeitos, mas tenho a certeza que estou a cair num erro enorme e tento afastar o pensamento. Vão ser pessoas normais as quais eu vou ter tendência para enaltecer as qualidades e nem mencionar os defeitos; até certo ponto, não me incomoda, porque os olhos dos pais vêem sempre mais do que os olhos das pessoas comum. O que me incomoda é achar que eu tenho uma característica que a mim me agrada e obrigar a que eles também a tenham. Ao fim ao cabo, receio que haja um conflito de gerações e que eu seja cabeça dura, sem conseguir abarcar a pessoa que eu estou a criar, não à minha imagem, mas sim na sua singularidade.

Todo este texto me vai parecer ridículo quando eu os tiver e eu sei disso. Todos estes problemas com que lido em relação à sua educação vão transformar-se noutros de ordem mais prática e imediata. Há coisas, no entanto, que eu queria deixar em nota para mim mesma para daqui a uns anos. Uma delas é o facto de que vou ter que perceber que uma pessoa com seis, sete, oito anos já compreende as coisas. Podemos explicar-lhe de uma forma adulta, porque ela já compreende. Não vale a pena estar com rodeios, porque a sua sensibilidade é bem maior do que a nossa e estão numa idade de "esponja". Também não quero falar com os bebés como quem fala com uma parvinha. Por último, não me posso esquecer de que eles têm que ter privacidade e que não posso estar sempre em cima, aos beijos e aos abraços. Esta última é a mais importante e tenho consciência de que vai ser a mais difícil de cumprir. O resto... calculo que se vá adaptando à personalidade da pessoa, não?

Mas na verdade, quer adopte, quer engravide, quero que a criança saiba que o amor que sinto por ela começou muitos anos antes de ela nascer.
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