sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

À distância

Se cada vez que pensasse em ti começasse a chover, creio que não me importava. E choveria o dia todo, com saudades tuas. Nunca pensei que a saudade fosse tão penosa, na verdade. Porque quando alguém tem saudades de outro mas tem a perspectiva de o ver num futuro próximo, fica em ânsia, como aquela que a paixão entrega em troca de lhe entregarmos os sentimentos. O problema põe-se quando esse futuro é próximo e parece o mais distante de sempre. É doloroso e não se está à espera. Por mais que tenhamos tecnologias, por mais que digamos que nos amamos vezes e vezes sem conta, isso só alimenta a angústia de não nos vermos. E depois, há a valorização das coisas simples. É isso que a distância ensina. Não tem nada que ver com confiança no outros - ou se tem, ou não se tem e o assunto nem merece discussão. Também não tem a ver com as saudades, porque quando alguém está longe, sabe com o que conta - ou faz uma pequena ideia.
Tem a ver com valor.
Tem a ver com ver sorrisos do outro lado do computador e imaginar que eles estão ali mesmo. 
Tem a ver com dar beijinhos no computador e imaginar que o seu calor artificial é a face da pessoa.
Tem a ver com acordar a pensar na pessoa e ela, nesse momento, mandar-nos uma mensagem a dizer que sonhou connosco...quando nós sonhámos com ela também.

É como quem se casa. Pensa que depois do casamento tudo vai mudar para melhor, tudo vai dar uma volta de 360º. Mas não é isso que acontece e eu não estou casada. Para uma pessoa subir a auto estima sem ver a outro pessoa semanas seguidas, é preciso que o outro goste muito de nós - porque nunca se consegue mostrar o que se sente liquidamente, há sempre partes que ficam em nós, porque são íntimas e indizíveis.

Quando há distância, o tempo é o assunto em que mais falamos. Desejos infundados tornam as conversas animadas e amadas. Arranjam-se estratagemas para se estar junto. Mas por mais que isso aconteça, nada te substitui. Nem sequer a imagem de ti.
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