sábado, 3 de março de 2012

Mail #3: As Oportunidades

Recebi um e-mail de uma rapariga a pedir-me conselhos amorosos. 
Eu raramente falo da minha vida pessoal neste blogue - e responder a mails deste género iria implicar alguma experiência, ainda que pouca - e por isso ele estava pendente há cerca de duas ou três semanas. Nem respondi à M. nem publiquei no blogue. Ignorei-o por uns tempos porque não sabia bem o que fazer com ele. No entanto, decidi que era esta a noite para o publicar. 
Pelas mais variadas razões, mas uma bastante específica: tenho uma amiga que passa (ou passava, segundo ela) por uma situação idêntica. Aqui está um excerto do mail:

Poucas vezes gosto de mim. Sinto que sou pouco suficiente, que o meu discurso não é articulado e que nas aulas as pessoas têm inveja de mim sem razão aparente. Até que surgiu um rapaz com o qual eu falo de vez em quando e que me cativa de cada vez que abre a boca. (...) Quando vamos para casa juntos, o 'P.' não me dirige nenhuma palavra de especial, nada de extraordinário. Mas só o facto dele falar e de gostar das mesmas coisas do que eu faz-me pensar num futuro e numa família (...) embora ele não saiba que há meses que o amo.

Não quero tornar este blogue em consultório sentimental, mas a verdade é que me dá prazer fazer uma tentativa de ajuda. Já ponderei que, mesmo que a pessoa seja falsa e não tenha nenhum destes problemas, pode ser que ajude alguém que leia. 
Sempre achei que quando não aproveitamos as oportunidades da primeira vez porque mal as vemos passar, elas voltam a bater à nossa porta. E uma oportunidade não cai só uma vez! Cai outra e outra e outra, até nós, deliberadamente, a agarrarmos ou a rejeitarmos. Mas a decisão é sempre consciente e nunca deixamos uma oportunidade 'escapar'. Ela não nos escorre das mãos assim do nada. No que toca então às oportunidades amorosas, as coisas são exactamente assim. Se não é uma pessoa, acaba por ser outra e por aí adiante. Até que chega alguém que, só pelo facto de existir, nos justifica a razão das outras relações não terem resultado. Acredito mesmo no que estou a escrever e até agora tem resultado para mim em todos os sentidos.
No entanto, tal como disse, as oportunidades são realmente postas à frente da nossa cara. Se as recusamos, recusamos. E se recusamos 'o rapaz' antes sequer de sabermos se se passa alguma coisa do lado dele, então a verdade é que a oportunidade de lhe falarmos não nos vai ser dada 1001 vezes. É preciso pensar a sério sobre as coisas, mas não é preciso pensar demasiado e inventar desculpas para não dizer o que se sente. Essa minha amiga, a determinado ponto, até disse que já não sentia nada por ele, que já tinha passado e que agora estava em paz. Mas só o facto de ela ter sentido necessidade de me dizer isso (porque eu a conheço muito bem há muitos anos) e de, recentemente, 'me' ter confirmado que afinal não esqueceu nada mas continua nesse impasse de vai-não-vai-ai-que-eu-sinto-qualquer-coisa-mas-tenho-*inserir um sentimento qualquer que sirva de justificação, por exemplo 'medo'*, me serve de base para te escrever que as oportunidades voltam sempre. Até um dia não voltarem.

Sejamos realistas: o que é que de pior pode acontecer aqui? Seres rejeitada. E então? E então, engoles em seco e não ficas a viver um romance imaginário que rapidamente se transforma em dor. É tão simples quanto isso. Eu e a maior parte das pessoas já foi rejeitada, traída ou simplesmente a outra parte não passou cartão. E dado que eu sou das pessoas mais dramáticas, românticas e chorosas que conheço, a coisa acaba sempre por passar. E aquela coisa de começarmos a ficar frustrados porque há muito tempo que não estamos com ninguém, que vamos ficar para sempre sozinhos e abandonados também acontece a todos. E nós choramos, esperneamos, batemos os pés e... numa maravilhosa tarde de Verão, aparece alguém. Alguém que viveu sempre ao nosso lado, no mesmo espaço que nós, que frequentava os mesmos lugares mas que nunca tínhamos visto. Se calhar é o que acontece com o P. Mas estás em vantagem: já o viste e já o reconheceste. Agora, só te resta não ficar a viver na prisão dos teus sonhos.

Ah, e aquilo que se diz... 'quando menos esperares vais encontrar'. É só parcialmente verdade. Tenho para mim que é necessário estar-se pré disposto para as coisas. Se estamos demasiado concentrados em nós, ou no que os outros pensam de nós, ou na maravilha que é ser-se solteira, então não se conte com uma relação.

(Um grande, enorme beijo a quem aguenta os meus dramas há meses e mesmo assim continua a amar-me. Eu também te amo cada vez mais. Mais outro beijinho à minha amiga que ouve os meus conselhos vezes e vezes sem conta - go for it, girl! :D
E um pensamento especial ao meu pai - que o pensamento não é palpável, como os beijos - porque faz hoje um mês.

E dei-me conta que esta parte final parece um excerto daqueles programas da manhã onde as pessoas mandam beijinhos para as suas famílias.)
Próximo post: Mimesis e Catarsis