domingo, 22 de abril de 2012

O Julgamento


A insustentável leveza do Ser - Milan Kundera
(se algum leitor quiser o pdf. do livro, escreva-me a pedi-lo)

Ando com uma pequena obsessão por este livro outra vez. O que está acima são excertos do próprio pdf. Interessante que quando voltamos a ler um livro uns anos depois, as coisas parecem-nos tão diferentes. Se este livro fosse uma pessoa, se este livro tivesse memória e a pudesse reproduzir, gostava que me dissesse aquilo que pensei na altura, aquilo que li na altura. 
Até à quarta classe, embora extrovertida, era um bocadinho solitária. Como cresci sem irmãos, brincava sozinha - no que resultou mais tarde numa grande chatice, já que quando brincava com outros meninos, tinha que ser sempre eu a escolher o rumo da história e não ao contrário - e lia muito. Mas nunca me senti só durante o meu crescimento, apesar disto.

Portanto, quer-me parecer que se a teoria Nietzschiana estiver correcta, se de facto o eterno retorno existe e se tudo se repete da mesma forma que foi feita a primeira vez, então eu não estou nada arrependida de ter tido a infância que tive, se bem que há algumas coisas que mudaria.

De facto, o eterno retorno muitas vezes parece-me quase como uma cura para decidirmos se uma acção é de facto correcta ou incorrecta, ou mesmo para julgarmos. Se pensarmos que aquela acção vai ser repetida de x em x tempo, sempre da mesma forma e se, a isso, juntarmos a nossa imaginação e pensarmos no que acharíamos dela se fosse repetida de x em x tempo e por todas as pessoas do mundo, então temos aí a resposta para o julgamento das nossas acções. Acho que se torna infalível o julgamento (ou auto-julgamento) delas a partir do momento em que a vemos de fora e repetida no tempo. O mesmo eu aplico a grandes decisões ou escolhas que temos que fazer. Claro que um dia mais tarde nos podemos arrepender, mas não creio que esse arrependimento vá trazer coisas assim tão más se a acção foi pensada. 

Em cima disto tudo, temos a experiência passada e a possibilidade de projectar no futuro as consequências, o que, parecendo que não, é uma mais valia de todo o tamanho. Se não fosse possível a projecção futura das acções, então de pouco ou nada ia servir o passado ou a aprendizagem com ele. É exactamente por isso que conseguimos fazer esta experiência mental que é de estender a nossa acção a outros agentes. Por exemplo, será que eu devo mentir na circunstância x? Imaginemos que toda a gente mentiria sempre naquela circunstância. Ou mais ainda, que toda a gente podia mentir sempre que sentisse inclinação para mentir. 
Estará correcto? 

(Obrigada meu querido Kant ;) )
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