No outro dia, há menos de uma semana, conversava com A. acerca da possibilidade de podermos amar alguém para além da pessoa com quem namoramos. A minha opinião foi determinada e explícita: não podemos. É impossível amarmos alguém que não seja uma pessoa. Sempre me convenci disto e condeno - mesmo agora - severamente uma traição, seja ela de que índole for (para além de que a minha capacidade de perdão é bastante limitada). Ontem voltámos a tocar no assunto, já não sei bem a que propósito, mas a conclusão foi a mesma. O amor está só condensado e trabalhado entre duas pessoas. Se aparecer uma terceira, é infidelidade e a relação acaba.
No dia de hoje, acordei com uma gripalhada de todo o tamanho, calor e a vontade de estudar a tender para o menos infinito. Toca de abrir facebook, quando me deparo com uma reportagem do P3 - coloco links no final do post - acerca do poliamor. Que caramba! Eu que tenho a mania que tenho ideias formadas sobre tudo e que nada me pode demover - convencida, verdade -, apercebo-me que nunca tinha pensado realmente a sério sobre o assunto. Resultado: acabei por ler a reportagem, estive em todos os links sugeridos e links dos links, adicionei as pessoas que tinham decidido dar a cara no facebook e toca de investigar sobre um assunto que era, nitidamente, um preconceito na minha cabeça. É claro que durante umas três ou quatro horas não abri um único apontamento, mas isso não interessa nada.
A primeira pessoa que nos aparece na reportagem é o Daniel. Curiosamente, eu conheço esta pessoa de manifestações, mas nunca me tinha perguntado que estilo de vida amorosa leva. Aliás, verdade seja dita, nunca nos perguntamos se a pessoa x namora com duas, três ou vinte pessoas.
Este rapaz, professor universitário, namora com duas raparigas e pelo que percebi, fazem parte do PolyPortugal, um blog que explica de uma forma muito descontraída acerca do que é isto de poliamor. Segundo ele, é realmente possível amar duas pessoas ao mesmo tempo.
Perguntei-me: mas o que é que tu, Laura, sabes sobre amar duas pessoas? Se é verdade que até agora nunca me aconteceu, não significa que não me vá acontecer um dia e, mais do que isso, não significa que não aconteça a outras pessoas! Se eu agora sou monogâmica e se não quero mais ninguém na minha relação, isso não é sinónimo para que um dia não o seja. Como é que algum dia eu pude ter cabeça para julgar quem ama quem, de que forma? Se a relação funciona a dois, a três a quarenta mil, why not? Ainda por cima, dado tudo o que eu defendo sobre LGBTTQ (lésbicas, gay, bissexuais, transgéneros, transsexuais e queer). Fiquei decepcionada comigo.
Entretanto, li alguns comentários sobre os possíveis filhos das constelações - nas relações poliamorosas, não se chama casal e, a meu ver, para além de muito mágico, o nome constelação assenta que nem uma luva na relação - que iam sair traumatizados, bla bla bla. A história acaba por ser a mesma do que nos casais gay, mas com um lado bastante mais positivo: há mais uma pessoa para ajudar a tratar e a educar a criança. Porque convenhamos: qual é a mãe que não anseia por mais uns braços enquanto o marido ressona, para a ajudar a cuidar do crianço que não se cala? Na verdade, o único aspecto negativo que vejo é o de as criancinhas serem gozadas na escola, mas quanto a isso, nada se pode fazer, já que qualquer criança é gozada por qualquer coisa que não seja a orientação sexual ou estilo de relação que os pais levam.
Para finalizar, gostava de explicar que não estou a apoiar que as pessoas andem aí feitas prostitutas a andar de um lugar para o outro a ter trezentas relações ao mesmo tempo e só porque elas sabem todas umas das outras, está bem. Estou a dizer que, embora isto possa acontecer, o sentimento de amor não tem que ser exclusivo a uma pessoa - embora, repito, para mim sempre tenha sido e neste momento, é - e se isso acontece com mais Daniéis do que se pensa, então força! Na verdade, o que queremos todos é ser felizes e se essa felicidade não puser em causa a felicidade de outros - nã nã, não me venham com o argumento de que as crianças vão ser infelizes! Ler o parágrafo acima! - então não há o mínimo problema.
Também não estou a apoiar a infidelidade. Antes pelo contrário! Estou a defender que uma relação pode ter 'pés e cabeça' se todos souberem de todos e se todos CONCORDAREM com o tema em questão.
Hoje sinto-me uma pessoa mais aberta, mais tolerante e sobretudo, feliz por constatar que as opiniões mais cerradas são possíveis de mudar. Basta informarmo-nos um bocado sobre o assunto :)
Abaixo coloco os links que consultei.
Site PolyPortugal (basicamente neste site estão reportagens, debates e textos de apoio que direccionam para outros sites interessantes. Vale mesmo a pena dar uma olhadela, que explicam muito melhor que eu.)
E se por acaso algum dia for preciso dar a cara pela causa, digo já que não tenho o mínimo problema - agora sinto-me uma espécie de convertida a uma religião em que tudo é fantástico, mas claro que não é disso que se trata.