domingo, 13 de fevereiro de 2011

Há dias que não passam em branco

O querer agir, o querer manter uma relação não-intencional exige esforço, exige pessoas e exige tempo. A noção de que o tempo se esgota nele mesmo, a noção de que o tempo acaba e nada vem mais, e nada regressa ao que era, porque já não é, dissipa-se. A necessidade de deixar escorregar a caneta para escrever versos e prosa vem de dentro para fora, influenciada pelo que está fora, que se segue para dentro de nós, como se nós mesmos fôssemos uma ponte, uma estrada que leva e lava pensamentos, uma estrada, um caminho, como se nós fôssemos nós mesmos e não tivéssemos que fingir para dedilhar uma caneta que insiste em espirrar jactos de tinta para um papel que acaba por ir para o lixo.
A necessidade é uma coisa lixada, mas nem tanto como julgamos. A necessidade é inacessível, nunca nos cansamos dela, necessitamos sempre de qualquer coisa, nem que seja desse dedilhar infundado que nos leva a escrever textos que nem nós mesmos acreditamos que escrevemos.
A construção de um relógio, a construção do tempo, como alguém me disse no outro dia, é uma profissão nobre, porque se dá vida ao que existe, porque se teima em descobrir alguma coisa em vez de a criar.
Não temos tempo? Construamos relógios.
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