quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Por que escolhi Filosofia como curso superior?

Ouve-se muito dizer que a Filosofia não serve para nada, que é uma perda de tempo e que não dá dinheiro. (E é tão comum os textos que falam sobre "como gostar de Filosofia em 30 minutos" começarem desta forma!).
Tem-se muito a ideia que os filósofos são uns tipos com óculos redondos, com ar de idealista de esquerda (cof cof cof!) e que são uns poços de conhecimento. Que quando nos aproximamos deles, vomitam sabedoria e ciências do oculto e secretamente, todos desejávamos ter um pedacinho daquela sabedoria. Mas na verdade, podemos equiparar a filosofia a actividades mais comuns.
Há três actividades humanas fundamentais. Uma, consiste em produzir, que é um acto que faz existir o que antes não existia. Um exemplo disso é a construção de uma mesa. Um marceneiro faz existir uma mesa do que antes era um pedaço de madeira. Ou seja, há um começo no tempo para a produção, e esta resulta de uma actividade de produção que implica determinadas regras, para a madeira se tornar efectivamente uma mesa.
O que é produzido não é um produto do acaso nem provém da natureza. São pensadas e conhecidas as regras da produção. A isto chamamos técnica. Ou seja, produção acompanhada de regras. Mas para nos servirmos de regras, não tiramos um curso de filosofia.
No entanto, há uma diferença entre o produto, a produção e o produtor. O produtor põe fora de si o produto e não se confunde com ele.
A outra actividade existente é a praxis (o que cá para nós, vamos chamar de acção). Por exemplo, uma aula é uma acção, o professor é o seu agente. Ou seja, a acção implica um agente e liga-se a este. As acções não andam por aí, todas bonitas, a passear. Quando mentimos, a mentira fica agarrada a nós. Quando fabricamos uma mesa, esta não se agarra a nós, podemos pegar nela, oferecê-la e nunca mais a ver. E a filosofia não é uma actividade prática.
Mas para que serve então a filosofia??
Porque esta é uma actividade de conhecer. É uma apreensão intelectual das causas últimas da realidade. Com a filosofia, pretendemos conhecer o fundamento, pretendemos conhecer o primeiro princípio ou as primeiras causas. E se conseguirmos conhecer a base, há a possibilidade de conhecer a totalidade.
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