quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dia 41 - A Solidão

Hoje não vos venho falar de tretas. Nem de dietas, nem de comida, nem de peso, nem de ginásio. Hoje quero falar sobre a solidão.
Pode parecer pretensioso, um tema demasiado abrangente, um tema sobre o qual eu não tenho nada a dizer. Afinal, não temos nada a dizer sobre temas que não conhecemos, diriam vocês. Mas eu tenho.
Nunca experienciei a solidão física. Nunca estive sozinha sem querer estar, nem nunca estive acompanhada  por frete. Posso gabar-me disso, porque é verdade. Mas o que é que me dá essa liberdade? A solidão interior. O facto de poder ir para onde quero ir, de saber que sou livre, faz-me sentir presa na minha própria liberdade. Talvez não devesse admiti-lo, ou isto pareça um contra-senso. Mas calculo que não seja a única a senti-lo.

Decidir tornar a minha solidão pública, também é estranho. Verifico, no entanto, que todos estamos sozinhos. Quem visita o blog, tu, estás sozinho. Apercebe-te agora do que está à tua volta. Toma noção do teu quarto, da tua sala, da tua cozinha, do sítio onde estás a ler este post. Não há mais ninguém. E se há alguém mesmo ao teu lado, estás concentrado no que eu te digo, no que eu te quero dizer, que te esqueces da pessoa que está ali mesmo.
Olha para as paredes que te rodeiam. São opacas, personalizadas, coloridas, rugosas - mas cada parede, cada grão, disfruta da sua singularidade, da sua liberdade de existir - enfim, da sua solidão. E tu lês o blog porque não tens outra coisa para ler, ou porque te interessa por alguma razão o que é aqui escrito dia após dia. Tu lês o blog porque te dá alento, porque te dá força, ou porque não queres perder uma boa mexeriquice. Tu lês, meu amigo, minha amiga, porque estás sozinho e queres sentir-te próximo de quem escreve. Queres sentir-te próximo de mim.

Essa solidão não é bem-vinda agora. Ou é? Estás numa casa nova e tens vergonha de falar com quem lá vive também? E se te enfrentares? Se houver uma parte de ti que não conheces efectivamente? Se calhar, só estás sozinho porque teimas em ignorar o teu lado negro. Ou talvez nem seja o negro, talvez seja só um lado teu. Já te olhaste ao espelho? Olha-te ao espelho.
Vês um corpo. Uns olhos que brilham de juventude, que teimam em fechar de sono, que gritam tristeza e ajuda silenciosa, que declaram uma morte viva, que já não aguentam viver. Porque vivem sozinhos.

E depois gabas-te. Gabas-te de que estás sozinho porque queres. Porque assim és livre.
Gabas-te da tua solidão porque tens medo que os outros vejam o que tu teimas em esconder de ti próprio. Serão frases feitas, o que te digo. Mas escuta-me: não tens que decidir nada. A decisão não é tua, porque quando pensas em ti, só pensas na parte que tu conheces e que achas que os outros conhecem.

Ninguém sabe o que tu sofres. Ninguém sabe que segredos escondes. Ninguém sabe dessa tua profundidade de alma. E se queres que saibam, dizes-lhes. Mas eles não percebem, eles não atingem. A felicidade não se alcança construindo. Alcança-se conhecendo o máximo possível de ti.

Deixa um espaço aberto deliberadamente. Estás sozinho, mas não estás só.

"A Laura poderá sentir-se vazia e sozinha nesta cidade" - disse-me uma actual professora minha, por mail, há três anos atrás, quando eu andava no secundário. Não compreendi até hoje. Bem-haja, professora.
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