sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dia 69 e 70 - A solidão: parte II

Andamos acompanhados pela solidão. Não há nada que nos cole mais à nossa pele do que a solidão. E isto não significa que estejamos sozinhos. Só significa que estamos sós.
No outro dia, vejam só, cheguei ao ponto de discutir com dois amigos muito queridos a relação que ambos mantinham. Achei que tinha sido uma conversa difícil, mas bem sucedida. Os pormenores não interessam, mas apercebi-me de uma coisa terrível: estávamos os três na mesma casa e nenhum de nós ouvia o outro. Começou por falarmos uns por cima dos outros, até que eu me apercebi do erro e deixei que falassem só. A solidão trás consigo esta característica: quando se cola a nós, não nos deixa falar. E quando reconhecemos que o outro não quer estar sozinho, abafamo-lo com aquilo que está escondido cá dentro.
É isso que se passa.
Na verdade, gostamos de ser abafados, ou não ligaríamos a televisão quando chegamos a casa, "para nos fazer companhia". Gostamos de saber que está lá alguém, mas que nós dominamos a relação que nós próprios impusemos.

Por outro lado, acho que há aspectos em que nos sentimos sozinhos e isso não acontece. Melhor dizendo: há momentos em que deixamos a solidão tomar conta de nós.
Sei, por exemplo, que uma pessoa que pertence a uma minoria, não se sente aceite. E nunca se vai sentir até que lhe digam muitas vezes que não faz mal pertencer à minoria e que isso a define. Quando falo em minoria, falo em termos de orientação sexual, etenia, identidade de género ou outras que são bem conhecidas e às quais as pessoas fecham os olhos.

A solidão não pode ser evitada, mas pode ser aliviada.
Por isso, pega no telefone agora. Não interessa que horas são. E escolhe uma pessoa da tua lista a quem queres mandar uma mensagem há muito tempo, mas por uma razão ou outra, não mandaste. Alivia, porque a capa da solidão está colada a ela e está calor.
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