quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Nus


Um corpo nu sempre me fascinou. Seja de mulher, seja de homem, de criança ou de bebé, nas mais variadas situações, é sempre algo de extraordinário. Costumamos dizer que o nu foi tudo aquilo que Deus nos deu para virmos ao mundo. Viemos nus, vamos nus e nada é mais natural que a nudez. Não se enganem, no entanto, se vos parece que estou a dizer que não sou pudica e sou a favor da nudez colectiva num centro comercial ou na rua. Sobre este assunto, falarei noutra ocasião.


O que me parece que está aqui em jogo é o facto de a nudez já não ser natural. Estar nu não é o estado natural das pessoas. Da mesma forma se repara quando alguém está a usar quatro relógios no mesmo braço e quando alguém está nu. Parece-me que o estado de ter roupas em cima não é mais do que o natural, não é mais do que qualquer coisa fluída que usamos porque está institucionalizado. Mas já alguém, alguma vez, se intrigou com o que está por baixo das vestes? Por que é que não vemos os outros nus, mesmo com roupa? A resposta óbvia é: porque têm roupa. E aí, meus amigos, é que está o ponto: deixámos de ver o que está por baixo, fixando-nos só no que o envolve. E não está errado de todo. Afinal se nos andássemos a mostrar totalmente às pessoas, as coisas poderiam ter consequências desagradáveis. No entanto, questiono-me (e questiono) toda esta desconfiança, toda esta falta de cumplicidade, toda este "fingir que se é vestido, quando na verdade, é-se nu".

Uma vez, escrevi a alguém que a via como nua. Quando se criam laços que se consideram umbilicais, a nossa tendência é de despir as pessoas. Não é por acaso que a sabedoria popular diz que "a quem feio ama, bonito lhe parece". E aqui, eu tenho que dar razão à voz do povo, na medida em que esta nudez é admitida após um sentimento forte.

O que fica no ar é: e vocês? vêem-se nus?


Fotos: olhares.aeiou.pt
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