segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Book review #1 - Alexis (ou o tratado do vão combate)



Hoje quero falar-te do último livro que bebi. Dá-se pelo nome de Alexis e é de Marguerite Yourcenar, que de resto, é das minhas escritoras favoritas, senão mesmo aquela que eu elejo para o topo. De há uns anos para cá, tenho vindo a reparar que os livros que leio são cada vez mais pequenos. Claro que não os compro pelo seu tamanho, mas parece-me que os pequenos têm sempre muito mais para dizer, do que os grande que tentam dizer tudo. Nos livros pequenos, a escrita é sublime, é pensativa, é lenta. E este não é, de forma alguma, excepção.

Em termos práticos, o livro é todo ele uma carta a uma amiga de Alexis - um rapaz "um pouco triste" e extremamente introspectivo. Através dele, identificas-te linha a linha, sentimento a sentimento, passo a passo. Revi-me nele em tantos aspectos, porque na verdade, quando se lê, tendemos sempre a comprar-nos ao protagonista. Parece que há algo de mágico neste livro que nos remete para uma espécie de subconsciente nosso e que despertou em mim um bichinho. Na verdade, só não escrevi sobre ele ontem à noite, quando acabei de o ler, porque ia acabar por ser demasiado evasiva e melancólica, tal não era a quantidade de sentimentos que ele me fez despertar. Aliás, é isso mesmo que ele faz: desperta-nos para a verdade, sempre de uma forma crua e disfarçada, sempre de uma forma introspectiva e coerente, sempre de uma forma desconcertante que me fez reler o seu final duas vezes para além da primeira. Este livro é um berro, é um grito, é um não aguentar mais o interior no interior. É um livro de perdão a Monique por continuar ao seu lado mesmo sabendo que não a ama. Alexis é uma exposição de culpa e um desespero pelo perdão que se segue depois de um afastamento propositado e de uma fuga para o bosque com outro rapaz.
De Yourcenar, espero sempre melhor a cada livro que leio. E o último é sempre melhor. Questiono-me bastantes vezes o que aconteceria se eu os lesse por outra ordem.
Definitivamente, um livro para ler em silêncio e num de dois momentos da nossa vida: ou quando estamos desconcertados e com demasiadas dúvidas, ou, ao invés, quando a calma toma conta de nós. Pensando bem, talvez o devêssemos ler duas vezes, uma por cada momento. Talvez assim leiamos o que ignorámos (propositadamente?) durante a última leitura. Se o pudesse comparar a outro livro que tenha lido, vem-me à mente A Carta ao Pai, de Kafka, não pelo que é dito, que desde já os objectivos de cada escritor são distintos, mas pela crueza louca da necessidade de expressão.


“Peço-te humildemente, o mais humildemente possível, perdão, não por te deixar, mas por ter ficado por tanto tempo”.
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