segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A lei do Terceiro Excluído aplicada ao gosto (ou "Lady Gaga")

A lei do terceiro excluído diz-nos que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Diz-nos que não há outra opção para além destas duas. Vinha eu a pensar nisto quando o meu leitor de música começou a tocar Lady Gaga. E eu deixei-o tocar sem sequer me aperceber que estava a fazer uma relação entre as duas coisas. Pessoalmente, não aprecio Lady Gaga. Ou melhor, não é a cantora que não aprecio, ela é-me indiferente, mas as suas músicas não fazem o meu género. Este Verão vinha a discutir o assunto com um amigo que é violinista e que me explicava que Lady Gaga tinha uma sonoridade única e que os arranjos estavam extremamente bem feitos. O meu conhecimento de música é limitado e por isso dei-lhe razão, pois não sabia como contestar. A verdade é que o tema me ficou na cabeça. Por que razão eu não aprecio as músicas delas normalmente, mas depois tenho-as no leitor que carrego comigo todos os dias e uma vez por outra oiço e até gosto? Percebi então que é possível gostar e não gostar ao mesmo tempo, porque as razões pelas quais gosto são determinadas e limitadas e, por outro lado, as razões pelas quais não gosto são mais em termos de quantidade.
Percebo também que poderíamos manter o princípio do terceiro excluído aquí, porque um céptico dir-me-ia que eu gosto por razões diferentes das razões por que não gosto. Mas isso não é verdade, porque há motivos pelos quais eu gosto de Lady Gaga que coincidem com aqueles pelos quais eu não gosto. Por exemplo, eu gosto das suas músicas porque me lembram bons momentos numa discoteca em Lisboa. Mas quando eu a oiço fora da discoteca, continuo a gostar de me relambrar dos momentos através da música. No entanto, há vezes as quais eu estou a ouvi-la e lembro-me exatamente desses momentos. Mas se por alguma razão começo a ficar nostálgica, então começo a não gostar da música, a achar que é uma palhaçada e mudo. Portanto, leva-me a concluir que eu gosto das suas músicas, porque elas me remetem para um momento x e não gosto das suas músicas porque elas me remetem para o mesmo momento x. A única coisa que diverge aquí são os sentimentos que a música me provoca e que me fazem gostar ou não gostar. Então por que é que eu respondo com tanta certeza “não” quando me perguntam se eu gosto das músicas dela? É simples. Porque quando aparece uma música nova (a qual ainda não tem nenhum momento ligado) geralmente não gosto do que oiço.
Desta forma, é possível gostar e não gostar ao mesmo tempo de uma mesma coisa que nos faça lembrar uma mesma circunstância. 
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