sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Mail #1 - O senhor anónimo pede-me que "eu me elimine"

Láura a ler os seus emails no seu iLivro.
É, agora sou uma vintage pinup.

Olá senhor anónimo,

Recebi o seu mail na minha fantástica caixa de correio do blog. E não foi um elogio, meus caros leitores. Na verdade, foi um super email! Agradeço-lhe, no entanto, por me ter tratado com todo o respeito: na verdade há pessoas que devem ser eliminadas da face da terra, tal como o senhor me diz (deduzi que fosse um homem, porque assinou como anónimO). E acho que realmente está muito bem dizer a essas pessoas que elas mesmas se devem eliminar. Calculo que não tenha usado a palavra "suicídio" para não ferir a minha susceptibilidade, afinal dá-se conta de que eu sou uma pessoa sensível. Obrigada senhor anónimo.
Também faz referência à eliminação, não só minha, mas de pessoas "como eu". Acho incrível a sua capacidade de julgamento da orientação sexual. Revela um espírito crítico bastante aguçado, assim como uma assídua leitura do meu blog. Mais uma vez agradeço.
No entanto, gostaria de lhe dizer que "não me vou eliminar". Mas desengane-se se acha que o quero eliminar a si! Nada disso. Aliás, também acho muito bem o facto de o senhor ter decidido ser anónimo. Mostrar a cara nos tempos que correm é perigoso. Veja-se só a imagem dos políticos! Assim que mostram a cara, tumba, são logo atacados e cartoonizados. Louvo muito a sua atitude, na verdade. Aliás, devo avisá-lo que não deve expor em público as suas opiniões (e isto pode parecer estranho, mas perceberá porquê, se continuar a ler). Até lhe conto uma história. Uma vez estava eu na bicha para o Pans and Company num centro comercial em Lisboa e estavam duas raparigas que eu não conhecia de mão dada à minha frente. A delicada empregada olhou para elas e disse-lhes que não servia aberrações (para especificar na sua linguagem: ela queria dizer que preferia que elas se eliminassem). O resultado foi o seguinte: eu e elas escrevemos no livro de reclamações e uma semana depois, recebi a resposta a dizer que a Pans tinha despedido a empregada. Portanto, das duas uma: ou o senhor quer trabalhar na Pans e por isso tem necessidade de expressar a sua raiva através de mails (sempre anónimos, não se esqueça, ou pode ser despedido. Estas empresas agora...!) ou então tem alguma vergonha de dizer ao mundo que certas e determinadas pessoas se devem eliminar. Na volta, o resultado é sempre o mesmo e sou eu quem tem o prazer de o receber no meu blog.
Para terminar, porque na verdade esta é só uma resposta a cinco linhas de uma pessoa a pedir delicadamente o meu extermínio, devo aconselhar uma leitura: Mein Kampf, de Adolf Hitler. Há também umas organizações onde pode encontrar pessoas que partilham as mesmas ideias que o senhor. A única coisa que lhe falta, na minha humilde opinião, é o senhor arranjar uma base argumentativa para o seu discurso. Para isso, recomendo-lhe A Retórica, de Aristóteles.
Mas também é meu dever mostrar-lhe o outro lado. Afinal, se ainda não me eliminei, é porque tenho alguma razão, ou não estaria aqui. Sugiro-lhe poesia romântica. Consulte vários poetas, como por exemplo Florbela Espanca, Sophia Breyner Andersen, Fernando Pessoa e por aí adiante. Vai ver que o amor é expressado de formas muito diferentes em cada um. Provavelmente vai gostar mais de uns do que de outros. Mas posso adivinhar que não vai odiar nenhum e vai reconhecer a beleza mesmo naqueles os quais não se identifica tanto. Pense nisso.
Foi um prazer esclarecer-lo, senhor anónimo.

Se mais algum anónimo (ou não!) estiver na disposição de me escrever sobre qualquer coisa, este é o dito mail:
criticadarazaointerior@hotmail.com
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