quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Emoções

É costume as pessoas dizerem que gostam de pessoas sensíveis, que se emocionam, que vivem cada momentinho, que apreciam o lado bom da vida. É costume também ouvir-se que elas mesmas querem ser assim. Mas isso não é verdade.

Eu sou assim. Sou assumidamente assim. E não era, até há uns três ou quatro anos atrás. Correm-me lágrimas por tudo e por nada. Às vezes estou sozinha e ponho-me a pensar em amigos meus, como são bonitos, como são belos, como eu tenho sorte em tê-los. E choro por isso, é mais forte do que eu, nem sei o que é que desencadeia essa reacção. No outro dia, uma amiga mandou-me uma mensagem por facebook dizendo que gostava muito de mim. E eu desatei a chorar e a sorrir ao mesmo tempo, de alegria, de felicidade, de plenitude. Nessa ocasião, nem fui capaz de lhe responder decentemente, que a felicidade ocupava-me os dedos. Por isso custa-me quando vejo nas redes sociais as pessoas dizerem que se amam por tudo e por nada. As amigas amam-se, os amigos amam-se, todos se amam. Conhecem-se há duas semanas e já se amam. 

É verdade que o amor tem várias formas mas elas têm nomes. Um deles é amizade, que é amor nítido, garantido e expressado sem palavras. Não creio que a amizade possa evoluir para o amor, porque não creio que seja uma evolução, porque a amizade não é uma forma fraca de amor. Acho sim que a amizade se pode transformar em amor. E isso emociona-me, e isso faz-me chorar.

É verdade que sou uma idealista incurável. Sou romântica por natureza e acho que estou bem assim. Creio que gosto do meu interior, gosto da forma como eu me vejo hoje e da forma como me idealizo daqui a alguns anos. Não preciso de ninguém para partilhar sonhos, mas mesmo assim, partilho porque é melhor, porque me sinto melhor e porque nunca compreendi a desilusão para com outros. É verdade que alguém nos pode desiludir nalguma altura da nossa vida, mas de certeza que aquela pessoa é boa, a pessoa é mais boa que má. O que não quer dizer que se perdoe facilmente, eu não perdoo facilmente - é uma parte que tem que ser trabalhada. Só tem que se ter a certeza que a pessoa é capaz de fazer as coisas bem feitas e que por de trás de tudo há boas intenções. 

Tenho que escrever o que estou a escrever. Não porque me queira convencer disto, porque no que estou a dizer eu acredito do fundo de mim. Não é tampouco para me exibir. É para que quem estiver a ler tenha a certeza que se há alguém que pensa isto, então se calhar é melhor dar o benefício da dúvida aos outros.

Sinto também que qualquer um de nós tem uma missão, um objectivo quando nasce. E acaba por nunca o descobrir - ou só descobrir parte dele. Mas não vale a pena pensar muito nisso: nós cumprimo-lo na perfeição, sem que para isso sejam necessários deuses ou intervenções além-homem. 

Tenho o hábito de sorrir sempre que compro alguma coisa numa loja. E sorrio com ternura, porque nunca se sabe quem está do outro lado, do que é que necessita, o esforço que faz para estar ali. De quem recebo menos sorrisos de volta é dos chineses nas suas lojas. Normalmente, olham para baixo e continuam o que estavam a fazer, como se eu fosse só uma brisa. É por isso que gosto de sorrir para crianças, para bebés. Eles acreditam no que eu acredito, eles acreditam que as pessoas podem ser boas, que qualquer pessoa pode ser boa. Não acho que seja infantil, embora seja uma característica que se verifica mais nos miúdos. Acho é que quando crescem, se deixam enganar por aparências, por desilusões que mais não magoam o seu ego.

Há pessoas de quem eu não gosto, pessoas que me põem com os nervos em franja. Mas há quem goste delas e por isso, eu fico contente. Tenho a certeza absoluta, sem qualquer margem para dúvidas, que se eu soubesse que uma dessas pessoas não tinha ninguém, eu ia ter com ela. Mas como têm e como eu não morro de amores pelas ditas, então isso faz-me duplamente feliz. 

Não quero transformar este texto em moralzinha de treta, de que eu sou boa samaritana e o resto do mundo está enganado. No entanto, não posso deixar de dizer que falta uma coisa: acreditar.

E nada mais expresso, porque tudo isto são emoções que fluem dentro de mim. Que ninguém compreende. Mas que eu não me importo.
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