sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Imolação dos Sicarii e o assédio de Masada (II)

Hoje quero falar-vos um pouco de um episódio pelo qual a história do Judaísmo é caracterizada e que me impressionou.


Estamos no século II aC e surgem duas correntes dentro do judaísmo: a dos saduceus e a dos fariseus. Os saduceus seguem a Tora literalmente, não aceitando quaisquer outros livros, sendo que prestam culto no único tempo, em Jerusalém, negando a vida depois da morte. Em vez de terem um Rabi, como têm os fariseus, têm um sacerdote que é o responsável pelos sacrifícios e por toda a parte ritual, que é vazia, com cerimónias estereotipadas. São pacifistas e colaboracionistas, tudo isto porque fazer parte da classe aristocrata, em que a religião e o seu culto oferecem poder político e económico. Por outro lado, os fariseus são o povo, aquele conjunto que considera a Tora, os Proféticos (Nevim) e as Hagiografias (Ketuvim), assim como alguns comentários, como livro sagrado, mantendo-se fiéis à moral religiosa e não a misturando com outros costumes estrangeiros. Foram estes que instituíram as sinagogas, que até hoje perduram. 


Entretanto, algum tempo antes, o povo judeu construiu um templo após o regresso a Jerusalém, quando terminou o cativeiro babilónico, no mesmo sítio onde tinha sido construído o templo de Salomão. Este foi chamado de Segundo Templo, cuja descrição da sua construção se encontra em Esdras, 1:4 (clicar para hiperligação para este capítulo na bíblia online). Entretanto, Herodes, como forma de agradar a César, remodela o templo, o que constitui uma ofensa e uma profanação para com o povo judeu. O templo remodelado (ou palácio) passa a chamar-se Masada (ou Massada). Os grupos de judeus são completamente aniquilados e dispersados com a queda de Jerusalém no ano de 70, menos os fariseus. O seu líder funda uma escola em Yabné, presidida por um patriarca, que se torna a máxima autoridade religiosa e jurídica. 

Planalto de Masada actualmente


Na Primavera de 73, os Sicarii (que eram fariseus), fugidos de Jerusalém para Masada, estavam providos de todos os mantimentos e armamento, bastante mais do que os Romanos, e a fortaleza encontrava-se totalmente ocupada por eles. Um dos retirados de Jerusalém envolvidos na sua defesa era Judas. Os Sicarii vinham há dois anos a resistir aos Romanos que insistiam em atacá-los, sendo que eram o último foco de resistência Judaica. Nessa altura, o governador romano Flavius Silva assumiu o comando das operações, rumou a Masada, construindo, a partir de de um promontório chamado Penhasco Branco, uma rampa que os levaria até ao topo do monte onde estavam os Judeus. A rampa tinha 100 metros de altura e uma base de 210 metros. A muralha pela qual estavam protegidos foi deitada abaixo pelos Romanos, mas como estava bem protegida, foi preciso incendiá-la, para se poder entrar lá dentro no dia seguinte. 

A rampa que permitiu o acesso Romano


Enquanto isso, durante a noite, os Sicarii decidiram que preferiam morrer em vez de serem atacados pelos Romanos. Vai daí, degolaram as mulheres e as crianças, sendo que se mataram em seguida. No final, restaram apenas dez pessoas, incluindo o comandante. Tiraram à sorte para ver quem mataria os companheiros e o último homem ateou fogo ao palácio e matou-se em seguida. Por sorte, algumas crianças, uma mulher e dois homens esconderam-se em condutas, sobrevivendo assim à imolação e ao ataque Romano. Este episódio é a Primeira Revolta dos Judeus, que assim se encerrou.



São só cinco minutos de vídeo que valem a pena.
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