quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O judaísmo e um bocadinho mais

A família do lado do meu pai é de tradição judia. Não creio que pregue a religião ou que sequer a pratique, mas o meu pai faz questão de em algumas ocasiões, como o Natal e a Páscoa, ter uns dois ou três rituais, só para não se perder a tradição.
A verdade é que desde que sou miúda que oiço a história que toda a gente conhece de quando Moisés é encontrado no rio, amamentado pela escrava que por acaso é mãe dele e depois criado pelo faraó. Entretanto é o escolhido por Deus para libertar o povo de Israel e lá vem a história de abrir o mar, de subir ao Sinai e de descer com as tábuas enquanto o povo fazia um bezerro de ouro para adorar. Até julgo que há um filme que conta essa história. O que não me contaram foi o resto e eu 'desmistifiquei' enquanto estudava a religião, de maneira que vou expor aqui, de forma a que saibamos o que aconteceu antes e depois.

Tudo começou com os nossos amigos Adão e Eva (que é dos meus nomes preferidos) criados pelo Deus Yahvé, que criou o universo a partir do nada, sendo que venceu o monstro primordial. Este Deus, ao contrário do que costumava pensar, é por norma um Deus muito humano, com reacções bastante humanizadas. Vai daí, eles são expulsos do Édano e têm dois filhos, Caim e Abel. Abel é pastor, Caim agricultor e Yahvé pede-lhes para lhe serem feitas oferendas. A oferenda de Abel agrada bastante ao Senhor, mas a de Caim é insuficiente. Este segundo irmão, cheio de raiva, acaba por matar Abel e Yahvé lança-lhe uma maldição de forma a que ele ande errante pelo mundo, com uma marca na testa para toda a gente saber quem ele é (e o resto da história de Caim podem ler em Caim de Saramago, que está muito bem retratada). Entretanto, o irmão morto é substituído por Set e a história de centenas de descendência continua, até que nos aparece Noé, que só conhecemos pela famosa barca. Mas porque é que Yahvé o mandou construir tal coisa? Porque os habitantes da terra estavam corrompidos e eram violentos. A solução? Um dilúvio para acabar com a palhaçada toda, pois claro. Mas Noé, o sortudo, pôde levar a sua mulher e um casal de cada espécie para dentro da barca. E assim foi o dilúvio. Quando acabou, Yahvé sentiu-se arrependido por ter morto tanta gente, então fez um pacto com Noé e com a Humanidade daí em diante, o Ben Noaj, de que mais nenhuma daquela situação se ia suceder. Como símbolo da aliança entre Deus e o Homem, criou o arco-íris e de cada vez que ele aparece no céu, devemo-nos lembrar do que aconteceu foi um erro que não se voltará a repetir.



Entretanto, aparece-nos Abrão (sim, Abrão), que é o primeiro patriarca de Israel, e Sarai (sim, Sarai), a sua mulher, que são escolhidos por Deus para irem para a terra que deus elegeu para eles. Ou seja, a terra de Canaã. Mas desenganem-se se acham que a primeira pessoa a dar à luz 'por obra de Deus' foi Maria. Na verdade, nesta altura, como havia muita consanguinidade, as mulheres não conseguiam dar à luz. Agar (que era a escrava de Abrão e Sarai) foi uma delas, à qual Deus engravidou e nomeou Ismael, sendo que o 'pai' era Abrão. Mas Sarai, cheia de raiva por Deus ter escolhido a escrava para engravidar do marido, tratou-a tão mal que ela teve que fugir, embora regressado depois, por ordem de Yahvé. Quando regressou e quando Deus o elegeu (mais uma vez) para ser pai de uma imensidão de povos, mudou-se o nome para Abraão (agora sim! :D) e o da sua mulher, para Sara (ah-ha!). Foi nesta altura também que se institucionalizou a circuncisão. Um pouco depois desta história, Isaac (cujo o significado é 'ele vai rir', que eu acho muito engraçado) casou-se com Rebeca, que também tinha problemas de fertilidade. Mais uma vez, Deus engravidou-a e nasceram Jacob e Esaú. Outra vez nos aparece a conhecida história de que Isaac tem que provar a Deus que o ama, matando o seu filho Jacob. Sobe ao monte, prepara tudo para matar o filho, e quando vai a fazê-lo... Deus impede e diz que está provado que o ama mais do que qualquer coisa. No entanto, passa-se uma coisa bastante curiosa entre Jacob e Esaú que eu não conhecia. Esaú é o filho mais velho e vende a sua primogenidade ao seu irmão Jacob em troca de um pedaço de comida. 

Jacob torna-se um homem forte, luta com os homens e vence-os. Então, Yahvé nomeia-o Israel. A partir daqui, sempre que falarmos em Israel, falamos em Jacob, filho de Isaac e Rebeca, e irmão de Esaú. Tem uma série de filhos e um deles é José, que é vendido pelos seus irmãos, por ser o mais amado de Israel. O tiro sai-lhes pela colatra e ele torna-se rei do Egipto. Quando se dá a época de escassez, a família dele é obrigada a recorrer a José. No início, tudo corre bastante bem e a sua família é bastante bem recebida pelo faraó, mas rapidamente as coisas descambam e todos eles e os descendentes se tornam escravos no Egipto. 

Um desses escravos dá à luz um menino. Como o faraó está a matar todas as crianças que nasçam do sexo masculino e ela não quer que o filho seja morto, deita-o às águas do rio e o menino é Moisés, que é criado pela mulher do faraó. Depois vem a história que eu contei logo no início deste post, sobre o monte Sinai e as tábuas dos dez mandamentos, ao qual sucede Josué, que divide Israel em dez tribos. Instala-se uma monarquia, em que governam David, em primeiro lugar e depois, Salomão e constrói-se o primeiro templo. O rei neste caso representa Yahvé, continuando a ser servo de Deus. Salomão constrói o templo de Jerusalém junto ao palácio real e associa o culto no santuário à monarquia hereditária, juntando assim, oficialmente, política e religião. Em 950 aC, Israel situa-se no sul e Judá, no norte. Como o rei de Israel não tem acesso ao santuário que está em Judá, cria santuários onde se adora a Yahvé através de bezerros de ouro, mais uma vez, o que leva ainda a mais tensões entre os reinos.

Para concluir, o Sabbath, que é o dia sagrado, Sábado, é eleito por Yahvé para sua adoração, no qual não se trabalha. A grande discussão gerada a partir daqui é, por exemplo, se se pode cozinhar ou no caso de se viver numa casa partilhada, se cada um cozinha a sua comida (e neste caso, todos estão a trabalhar, o que é inviável) ou se uma pessoa cozinha para toda a gente (aqui, há um servo, que Yahvé também não admite). 

Agora, na época do fast-food, a questão que se põe é quem é que liga para a pizaria para encomendar uma piza.

(continua...)
Próximo post: Mimesis e Catarsis