domingo, 4 de dezembro de 2011

Incompletude

Já passou tanto tempo desde que mirámos as pedras da calçada, num dia de chuva, com os cotovelos apoiados em mesas de basalto. É sempre bom recordar cenários e pintá-los à nossa medida, como nós queremos que seja, ou como foi realmente, mas mais brilhantes. Sempre que me chamam, eu atendo, tenho esta necessidade de atender aos chamamentos. Se um dia Deus me chamasse, eu também lhe responderia qualquer coisa. Mas era bom que me deixasse uma notinha antes, a dizer que ia chamar por mim, para eu poder levar gravador.

Como ia a dizer, já passou tanto tempo e esse tempo parece-me recheado. Foi um tempo de construção, olha hoje, mais um bocadinho desse tempo, sem obrigatoriedades, de lutas contra o sono e contra o esquecimento, de pinturas mentais e de elasticidade de capacidades. Engraçado como somos tão elásticos e nem nos damos conta, ai que gosto tanto de ti e tu nem sabes.

O meu verniz começou a estalar e eu odeio quando isso acontece. Acho que é a assinatura para os outros me julgarem como desleixada, talvez porque é assim que eu julgo quem tem o verniz estalado. Não me digam que é por falta de tempo, porque não é, porque verniz estalado retira-se em cinco minutos sem problemas de maior.
O meu verniz está estalado, incompleto nas unhas, porque derramei a acetona.
Tenho medo de ficar incompleta também.
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