quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A 'amiga'

Sempre fui uma rapariga de muitas amizades. Nunca dei por mim com falta de amigos e não sei o que é não ter ninguém com quem conversar sobre determinada coisa.
Quando ia jantar fora com a minha mãe, em criança, o restaurante era meu e fazia amigos nas outras mesas. Nunca mais os voltava a ver, mas gostava de brincar com eles e às vezes questiono-me onde estarão aquelas pessoas pelas quais senti empatia numa noite, num restaurante, no meio de comida e empregados. Aos dez anos fiz os meus melhores amigos, que ainda hoje conservo com uma relação muito próxima. Se tivesse irmãos, diria que a sensação de os ter e de ter os amigos que tenho é a mesma. Depois fui crescendo e nunca tive uma desilusão em termos de amizade: nunca ninguém me faltou, nunca me falaram mal e raramente discuti com algum amigo meu.
Se nos afastámos, não foi por nenhuma briga ou mal-entendido. E se voltasse a falar daqueles que me afastei, rapidamente teríamos tema de conversa, porque nunca houve entraves entre nós.
Até chegar à faculdade.
Assim que entrei no primeiro ano, tomei logo uma rapariga como grande amiga. Começámos a fazer tudo juntas até que, no momento em que o ano acabou, a amizade acabou com ele. Também nunca mais nos falámos, embora ela uma vez ou outra me tenha enviado um mail - depois de eu ter enviado uns quantos antes, enfurecida por não me falar - dizendo que, lá por não me dizer nada, não significava que não pensasse em mim todos os dias. Tretas, como facilmente percebi, e não lhe respondi.
Tempos depois, liguei-lhe. Repetidas vezes. Liguei-lhe no aniversário, liguei-lhe para dizer que ia a Lisboa, liguei-lhe para almoçar comigo, liguei-lhe para lhe dizer que o meu pai tinha morrido e liguei-lhe mais quatro ou cinco vezes para não dizer nada. Silêncio.

Às vezes penso nela e gostava de saber como lhe está a correr o ano, se tem conseguido fazer algumas cadeiras, se está a trabalhar... Mas tenho a sensação de que, pela primeira vez na minha vida, tive uma amiga que não correspondeu às minhas expectativas.

Bem bom que a excepção confirma a regra :)

(lamento o texto infantil e os últimos textos um bocado mórbidos.)
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