quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Histórias de escola #3

Quando entrei no quinto ano, deu-me a súbita mania de que sabia tudo. Falava com toda a gente sempre de cima, tinha um ar superior e achava que assim é que devia ser. Foi aí que conheci a minha melhor amiga e, juntas, tornámo-nos nas melhores alunas. Competíamos com toda a turma, mas não me lembro de haver grande competição entre nós. Ligávamos uma para a outra e, em vez de falarmos de assunto triviais, falávamos de matéria e de testes, quais universitárias. Quando dizíamos que íamos estudar para a casa uma da outra, não fazíamos mais nada senão estudar mesmo: umas obcecadas, mas felizes.
Numa ocasião, a nossa directora de turma decidiu que havia de mandar ler O Principezinho, juntamente com o preenchimento de uma ficha de leitura. Pedia para identificarmos o autor, a editora e para fazermos o resumo do livro. Creio que não havia muito mais perguntas ou, se as havia, não me recordo. 
Mas eu assim fiz.
Li o livro - e não gostei muito, diga-se já...mal sabia eu o que estava a perder! - mas tinha perdido a ficha. Telefono para ela, peço-lhe para me ditar a ficha pelo telefone e preenchi-a numa folha lisa, tendo em mente que no dia a seguir, fotocopiaria a dela, punha-lhe corrector, voltava a fotocopiar e copiava aquilo que tinha feito em casa. Tudo isto, uma semana antes de a entregar, portanto, tinha mais que tempo. 
Lembro-me que me fartei de escrever. Resumi e ainda dei a minha opinião no final do resumo. Está-se mesmo a ver que no dia seguinte, ou porque ela se esqueceu da ficha dela em casa, ou porque eu me esqueci de lhe pedir, acabei por não fotocopiar.

Chegou o dia da entrega da ficha e eu não tinha a minha. Pior, nem tinha o rascunho que tinha escrito em casa uma semana antes. A aula era depois do almoço e eu só me lembrei da dita durante a hora em que comia. Vai daí, pedi a ficha a alguém, e pus em prática o meu plano, achando que pelo menos, faria qualquer coisa. Fui para a biblioteca e não tinha canetas. Para mal dos meus pecados, a única caneta que havia era vermelha, da bibliotecária - que me ensinou o significado de PIDE. Não fazia mal, não queria era ficar com uma ficha de leitura em falta, porque isso ia arruinar a minha nota, ia logo ter negativa no final do período e depois não ia passar de ano - os exageros do costume. Lá preenchi mas tocou para entrar sem eu sequer ter feito mais de duas linhas de resumo. Entreguei assim mesmo.

Dias depois, a professora entrega, corrigida. Toda a turma teve boa nota, era coisa fácil. Não me lembro quanto tive, mas sei que foi baixa e tinha o seguinte comentário: caligrafia mal cuidada, resumo incompleto. A aluna não leu o livro.

Chorei durante o resto da tarde.


(sim, para aqueles que me estão a achar louca, eu sou mesmo muito dramática no que toca a estas coisinhas. E em vez de ir falar com a professora, guardei O Principezinho e jurei que nunca mais o leria, como uma espécie de vingança. Felizmente passou-me e agora adoro :) )
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