sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pensar a Preto e Branco

À medida que fui crescendo, não fui capaz de apreciar cinema a preto e branco. Sempre achei chato, pouco estimulante e principalmente, demasiado 'velhinho'. Pelo contrário, sempre tive uma predição por fotografia no mesmo registo. Se por um lado a imagem a preto e branco devolve ao espectador sentimentos de outrem, nos filmes os sentimentos perdem-se e mais não se vê do que sombras - que do ponto de vista estético, é muito interessante, mas não me é agradável aos olhos. É como quem diz que é muito engraçado ler pela primeira vez um tratado qualquer histórico-filosófico, delirar com ele, sem nenhuma base. Não é. Sei perfeitamente que se não tivesse algum treino em ler livros 'de transição' - ou seja, da escrita normal, para a escrita filosófica - não ia apreciar como aprecio alguns livros que me são dados a ler. Arrisco a dizer que os ia considerar maçudos, tudo por falta de preparação.

O mesmo creio acontecer com os filmes a preto e branco. É preciso ter passado por outro tipo de experiências com filmes a cores - o que até soa irónico, porque os meus pais passaram de filmes a preto e branco para filmes a cores sem o menor problema - para se conseguir que os filmes a preto e branco entrem na nossa rotina de 'gostos'. Se começarmos com filmes pequenos, ou de assuntos que nos interessem, talvez possamos dar um grande passo e passar a apreciar um leque mais alargado de cinema.

Só fui desperta para a qualidade dos filmes a P&B quando entrei na faculdade. Tive (e tenho) um colega que era obcecado por cinema e das poucas vezes que falámos, ele foi-me dando nomes aqui e ali, alguns deles de filmes a P&B, aos quais eu torci o nariz e deixei para o final da lista. 
E então, fez-se luz.
Numa ocasião em que estava aborrecida numas férias nos Açores, peguei nos filmes do Woody Allen que tinha em casa e decidi ver o único que não tinha visto daquele maço de DVD: Manhattan. 
O meu desgosto foi enorme quando comecei a ver que não tinha cores. Mas mesmo assim, arrisquei.


E tornou-se num dos meus filmes favoritos. Mais tarde, descobri que o filme foi gravado neste registo (?) porque fazia com que o realizador se lembrasse da sua infância e da sua forma de ver Manhattan enquanto criança.
Por esta razão, comecei a ver outros quantos e a minha raiva não fundamentada começou a desaparecer. Não vos sugiro filmes porque, das duas uma: se gostam de P&B, provavelmente sabem aquilo que tem qualidade. Se não gostam, nem se vão dar ao trabalho de procurar o que eu sugiro. 

Assim, quero deixar-vos com 10 minutos - é pouco tempo, não sejam preguiçosos! - de Chaplin. É um clássico que toda a gente deve ver. Mesmo os que só vêem a cores.

Para ver o filme, clicar aqui.

(Não posso deixar passar em branco o facto de o parlamento português ter chumbado a adopção por parte de casais homossexuais. Acho que é de uma ignorância e incongruência tremenda que num país onde qualquer pessoa pode casar com qualquer pessoa, qualquer pessoa não possa adoptar. E não me dêem argumentos cliché de que as crianças ficarão traumatizadas. O assunto já é velho e cheira mal - assim como os argumentos pouco - ou nada - fundados. É com tristeza que expresso o meu descontentamento.
Ainda no tema do post de hoje e relacionado com este assunto, recomendo vivamente o seguinte:



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