domingo, 18 de março de 2012

Princípios e fins

Quando me dizem que tudo tem um fim, eu concordo, porque acho que tudo é um fim. Todas as acções são isoladas, portanto, todas são um fim em si mesmas, mesmo que isso leve a outra acção. Nada é continuado no tempo. Se, por exemplo, eu decido escavar um buraco de dois metros, cada momento que passa o buraco é mais fundo, portanto o momento já passou e aquela tarefa já chegou ao fim. Não interessa o trabalho final, o efectivo atingir os dois metros de buraco, interessa sim cada pazada que se dá para tirar a terra de lá de dentro. O mesmo se passa quando estamos apaixonados: a paixão é o fim. E isto dito assim até soa a dramático, mas na verdade não é. Tal como viver é o fim, mesmo que haja vida depois da morte. As coisas ou têm duração no tempo ou não têm. E não podem ter, porque o tempo só existe enquanto passado e enquanto futuro. O tempo só existe enquanto recordação ou ansiedade de atingir determinada coisa. O tempo presente, como muita gente já disse, é o tempo em que nada acontece, porque tudo é infinitamente divisível.

Não se pode é levar à letra a frase 'tudo tem um fim' como quem diz que um namoro tem que começar e acabar. Ou uma vida tem que começar e acabar. Isso não é verdade. A vida não começa nem acaba, a vida é uma sucessão de momentos em que um deles é o primeiro e outro deles é o último. E mesmo o último momento começa e acaba. E o primeiro também. E todos os outros. Se cairmos no cliché de dizer que a vida é feita de momentos, é verdade, se pensarmos que tudo está acorrentado, então sim. Mas não há vida. Há princípios e fins. Nem há continuidade. Há princípios e fins. E loucuras e devaneios, como este texto que já passou e criou outro momento agora. E agora. E agora. Fim.
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