quinta-feira, 19 de abril de 2012

'A insustentável leveza do ser'

Schiele, Auto-retrato

Para mim, o título deste livro (e o livro, talvez) é o melhor que alguma vez li. Cada palavra está situada onde deve estar e o livro em si é para ser lido devagar, absorvendo cada frase que nos é um pontapé na cara. Quando o li tinha quinze anos. A minha mãe ofereceu-mo pelo aniversário e a capa tinha uma senhora com um chapéu, a preto e branco. Era uma fotografia. E o título...oh, o título! Porque não é isto mesmo verdade? Que o ser, a consciência do ser que se vai abatendo sobre nós com o passado do tempo (esse grande escultor) é tão invisível e tão pesada? E no fim, tão insustentável que a morte intelectual se apodera de nós? Já o Deleuze se suicidou porque não tinha nada mais que ensinar. Já se sentia vazio. E o que é que lhe restava? O seu ser. O peso de si era só o que tinha.
Tenho que o reler. Não sei bem para quê, porque uma pessoa passa a vida a tentar compreender o que a rodeia, mas quer compreenda, quer não, morre. De qualquer forma, trato de me fazer feliz enquanto por cá ando.


"Mesmo a nossa própria dor não é tão
pesada como a dor co-sentida com outro,
pelo outro, no lugar do outro, multiplicada
pela imaginação, prolongada em centenas de ecos."

Milan Kundera, A Insustentável leveza do Ser
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