sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nova Iorque

Já estive duas vezes em Nova Iorque. Uma no Inverno, tinha uns três ou quatro anos, e outra no Verão, devia ter oito, nove ou dez anos. Da primeira pouco me lembro, mas segundo a minha mãe, fomos ver o Toy Story no cinema, o meu primeiro filme. Gostei. Vimos patinar no gelo e fascinei-me. Passámos lá a passagem de ano com os nossos primos, numa casa extraordinária da qual não me recordo a não ser através de fotografias.
A segunda vez traz-me memórias doces. Lembro-me de passar por montanhas vermelhas, de subir aos mais famosos arcos do mundo e de olhar cá para baixo e me parecer vertiginoso. Lembro-me do 'colorado river', que todos dizíamos com um sotaque mexicano. Saía qualquer coisa como 'cólórádo rrivér'. E ríamos muito sempre que dizíamos. Fizémos uma longa viagem de carro e estivémos numa montanha linda. Lembro-me de ver água e verde, mas de uma forma muito diferente da açoriana. Pensando nisso, tenho pena de não me lembrar dos nomes dos locais.
Agora, em termos de Nova Iorque propriamente dita: nunca subi à estátua da Liberdade. Em vez disso, passeámos no Central Park e fomos ao Guggenheim. Lembro-me muito bem da minha mãe me dizer para prestar muita atenção ao que estava a ver, porque era uma vez na vida. Havia projecções, pinturas, esculturas... Havia tudo! Nunca me entusiasmei tanto num museu como daquela vez.
Mas a minha memória mais acesa é a de me sentir bem ali - menos no Empire State, porque estava com medo que viesse um avião. Como já dava alguns toques de inglês, sentia-me muito orgulhosa a pedir uma água ao empregado, ou um sumo. A minha mãe deixava e ria disfarçadamente. Mas naquele momento já era uma pessoa crescida a falar inglês.

Nos últimos dois ou três anos, tenho tido uma vontade imensa de lá voltar. Gosto de confusão, de multidões e gostava de um dia ter oportunidade de trabalhar em Nova Iorque. Mas queria ir com a minha pessoa. Gostava de lhe poder mostrar a vertigem que se sente quando se olha para os edifícios, a pobreza explícita de algumas pessoas na rua, a maravilha que é o Central Park, o cheiro estranho que circula no ar. O inglês engraçado de algumas pessoas. E depois, o meu maior sonho material: o de ter um apartamento com vista para o Central Park. Imagino uma porta de madeira clara e uma casa decorada em tons claros. Ah, e muitas flores em casa, muitas orquídeas, principalmente verdes e roxas. Depois teria que ter uma varanda transparente. Com quadrados gigantes transparentes, para se poder ver lá para fora.
Mas antes de tudo isso, antes de toda a casa que terei concerteza em Nova Iorque, quero lá ir mais uma vez. Porque tenho medo que a impressão que levei do passado possa ser diferente da que terei agora.


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