quarta-feira, 11 de abril de 2012

O mundo imagético e a crise

O que se passa é que consideramos que o mundo é um verdadeiro palco de imagens. Consideramos que tudo o que existe é 'imagético', é palpável, pode ver-se ou sentir-se. Deixámos de ter em conta que há para além do que se vê, que há formas de viver mais poéticas (nem por isso, menos credíveis!) e que podemos conquistar muito mais com a força do pensamento e com a Vontade, mesmo que estejamos em patamares de pensamento diferentes. Neste momento, é exactamente o que considero ser o problema, o verdadeiro problema universal. Estamos todos rendidos ao que é imagem e não nos estamos a aperceber que com essa concepção estamos a mudar o que penso ser os verdadeiros valores. Não me quero armar em moralista e tampouco considero que o que é antigo é que é bom e, por essa razão, sou resistente à mudança. Nada disso. O que quero dizer é que a 'crise' é essencialmente uma crise de valores - expressão que de momento adquiriu uma conotação meramente económica - no sentido em que eles mudaram.
Os que antes - não sei sequer há quanto tempo - eram nada palpáveis, são agora traduzidos em moedas ou acordos. Aliás, já dizia Nietzsche mais ou menos isto quando dizia que 'Deus morreu', querendo dizer que aquilo que era moral, aquilo no qual as pessoas acreditavam e tinham fé, não necessariamente um ente superior, senão um Deus mais moral ou até mesmo 'o' Valor, é agora nada e está morto. Está a dar-se um fenómeno de 'transvaloração', no sentido de uma inversão de valores e portanto, uma supressão da metafísica, ou seja, daquilo que está para além do palpável, do que não é imagem. 

Está a faltar-nos o desenvolvimento de uma faculdade essencial: a de 'desconstruir', de interpretar, ou como diz a minha mãe, de ver com olhos de ver. Deixámos de desenvolver o pensamento abstracto que nos permite resolver problemas imagéticos, valorativos e morais, abarcando assim todos os tipos de problemas possíveis, para passar a focar-nos no que é somente imagem. Exemplificando: não podemos querer passar a Mona Lisa para uma instalação da Mona Lisa. Porque se perde tudo o que é metafísico presente na obra original para se criar (e note-se que não se recria, porque se constrói uma nova obra e diferente) uma instalação que em nada tem que ver com a Mona Lisa ela-mesma. Assim, o que antes era Valor, agora transforma-se em História de Valor. 
E nesse sentido é precisa uma injecção de pensamento e de metafísica. 
É preciso ler.   
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