segunda-feira, 16 de abril de 2012

Vermeer

Rembrandt lembra-me sempre Vermeer. E Vermeer lembra-me sempre 'A Rapariga com Brinco de Pérola', que me lembra 'A Leiteira', que creio que foi usado num qualquer anúncio televisivo. Mas tenho problemas com estas memórias enlaçadas porque sei que se me derem um Rembrandt e um Vermeer para distingui-los e eu não conhecer as obras previamente, sou uma total naba. 
Assim, após uma curtíssima pesquisa de dois dias, trago-vos este post com aquilo que aprendi neste passado recente.
Não estava enganada quando, sem saber porquê, associava estes dois pintores: na verdade, Vermeer é o segundo pintor holandês com mais relevo depois de Rembrandt, apesar do primeiro ter morrido paupérrimo e a viúva ter acabado por vender as suas obras ao preço da chuva. Aliás, algumas pinturas até foram vendidas assinadas por outras pessoas, para que valessem mais, dado que o seu nome não era sonante na altura (n.1632 - m.1675).

Há quem diga que a maior parte das obras dos pintores revelam a sua personalidade ou pelo menos parte dela. A verdade é que de Vermeer só temos 35 pinturas (e 15 filhos, é certo) e nem se sabe muito bem se todas pertencem ao pintor. Quanto ao seu modo de vida, é engraçado o facto das suas pinturas revelarem exactamente os valores da época. Não era um pintor de contrastes políticos - aliás, era bastante leal politicamente! -  e isso pode ver-se em todas as suas obras. Elas são uma confirmação directa do que se vivia na Holanda do século XVII.
Uma curiosidade engraçada da sua técnica era o facto de ele fazer as suas próprias tintas. Ora, isto resultava em irregularidades bastante nítidas nos seus quadros.

A obra que quero analisar neste post é a denominada Cristo na casa de Marta e Maria. Chamo aqui a atenção para que não confundamos com a homónima de Velázquez, que se pode ver aqui. Também a mesma cena é retratada por Rembrandt, Rubens e Caravaggio.

Cristo na casa de Marta e Maria
É verdade que o pintor não era muito dado a assuntos históricos. Se por um lado pintava cenas mais íntimas e nos aconchega, por outro somos levados quase de arrasto a entrar nesta obra. Neste quadro especificamente narra um episódio descrito em São Lucas: Jesus vai até a um mercado e uma mulher chamada Marta convida-o para ir a sua casa, na qual lhe oferece que comer. Enquanto ela prepara a refeição, a sua irmã Maria escuta atentamente a palavra do Senhor. No momento em que Marta interroga Cristo sobre por que razão não insiste que Maria a ajude, ele responde qualquer coisa do género: 'Marta, tu preocupas-te demais. Mas só é necessário inquietarmo-nos com uma coisa e Maria fez a escolha certa.'
Sem querer comentar os valores da época aqui envolvidos, a verdade é que a pintura retrata de uma forma muito explícita esta cena, dado que nos é apresentado Jesus a conversar com Maria e Marta, por trás, com um cesto de pão, em posição de quem pergunta. É também impossível não reparar que o que faz com que haja uma relação entre as três figuras é a luz que incide sobre todos e também no centro, destacando a mão de Jesus que contrasta com o fundo branco.

Já aqui disse que a Arte Sacra me fascina de uma forma inexplicável. 
Esta não lhe fica atrás.


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