domingo, 13 de maio de 2012

Histórias de escola #6 - o meu primeiro namorado

Estava eu no final do primeiro período do 5º ano, tinha dez anos e o mimo no corpinho a dar c'um pau. Fazia teatro, que fiz até aos 16/17 anos, quando entrou um rapaz novo, moreno, de olhos verdes e cabelo preto para a peça que fazíamos na altura. Como eu tinha ido à do meu pai, só o conheci depois de as minhas amigas já o terem conhecido. Muito me falavam elas, que ele era lindo, fantástico, inteligente, bla bla bla. Mas verdade seja dita, eu não estava assim tão curiosa. Até que nos apresentaram. Lembro-me que foi na carrinha do teatro a primeira vez que nos vimos.

Daí até às férias foi um instante.

O serviço da minha mãe costuma organizar todos os anos uma festa de Natal. Curiosamente, esse tal rapaz era filho de uma das pessoas que trabalhava com a minha mãe. Como era festa mais formal, lá fomos nós todos aperaltados. Eu e outras crianças que por lá estavam jogámos a um jogo que não vale a pena estar a explicar, em que o resultado foi ele a ajoelhar-se à minha frente e a dizer que os meus olhos eram tão bonitos como o chocolate. O meu primeiro pensamento na altura nem foi que estava muito apaixonada, mas que realmente era um bom elogio. Pode dizer-se que os azuis são como a água, os verdes, como os campos, mas nunca me tinha ocorrido um elogio aos olhos castanhos! Derreti - apropriado. 

Nessa noite, saímos namorados da festa, sem beijinhos, sem mãos dadas, sem nada. Só assim uma coisa oficial, que eu não queria cá confianças.

Foi também por essa altura que começou a saga dos aparelhos nos dentes. Como morávamos longe, eu escrevi-lhe uma carta a dizer que esperava que ele não acabasse comigo porque eu agora falava diferente. Ele respondeu-me que não fazia mal - oh tão querido - e que também esperava que eu não acabasse com ele porque naquele período, tinha tido seis negativas. Seis. Começaram a tocar os meus apitos, mas como boa mulher que era em início de carreira amorosa, não liguei nenhuma aos sinais óbvios. 

As nossas mães, deliciadas, calculo, decidiram que devíamos fazer um jantar de dia dos namorados. E nós concordámos. Eu ofereci-lhe um perfume - comprado pela minha mãe, já se vê! - e ele ofereceu-me uma vela de cheiro. Ao fim ao cabo, estávamos destinados, pensei eu. Passou o jantar do dia dos namorados e nem um único beijo trocámos.

Tempos depois - passávamos meses sem nos vermos, agora que penso nisso! E nem falávamos todos os dias... que triste - ele decidiu vir à minha cidade. Estava deserta, como sempre, quando eu decidi que o ia beijar. Lá me preparei toda, lavei os dentes umas trinta vezes e quando ele chegou... vinha com um pacote de batatas fritas - que eu odeio - com sabor a sal e vinagre! NÃO! Não podia ser.
Mas Laura, eu mesma, não podia ter tido uma ideia melhor. O meu plano B, se não nos beijássemos, era fazer subir as negativas dele. Como? Levando-o à casa da cultura, pois claro. Sou tão inteligente que até arrepia. Vimos um presépio que se mexia, uau, que programa romântico fascinante! passeámos e lá fui eu para casa completamente arruinada pelos meus planos terem falhado.

O último dia da relação foi quando fiz onze anos - que crescida!
Ele tinha-me dito que não podia vir ao meu aniversário porque tinha um acampamento de escoteiros e eu passei a semana antes muito irritada. Chegou o dia dos anos e ele apareceu...tarde, mas apareceu. Que frustração! Primeiro tinha dito que não vinha e agora vinha de surpresa como se fosse um super herói? mente feminina

 Peguei na prenda, chamei a Filipa, a minha melhor amiga até hoje, e fomos para o meu quarto abrir. Eram dois ursinhos de peluche com um coração no meio a dizer 'amo-te'. Não vou comentar.

No dia seguinte, acabámos. Ou melhor, ele acabou comigo. Mandou-me um mail a dizer que já não gostava de mim. Assim, simples e clean. Eu levantei-me da secretária, fui para o meu quarto e berrei a plenos pulmões enquanto a minha mãe via a filhinha a sofrer o seu primeiro desgosto amoroso. E lembro-me que me disse que aquele era só o primeiro, que ainda ia ter muitos. Obrigada mãezinha, pela tua sapiência na minha altura de tormento e dor.

Mais tarde, uns cinco anos depois, quando a minha concepção de amor exigia alguém diferente do primeiro rapaz, vim a saber pela mãe dele que ela o pressionava sempre comigo para ter boas notas. Ou seja, dizia 'a Laura tem boas notas, porque é que tu não tens?' e ele fartou-se. Foi a única forma de eu o perdoar por ter acabado comigo por mail. Cinco anos depois. 

Há cerca de um ano voltei a encontrá-lo no facebook. Penso que não acabou o secundário e neste momento, trabalha num supermercado no Porto. Fiquei triste por ele, mas também sei que não gostava de estudar. É pena... 
Vi umas fotos com uma guitarra. Pode ser que seja bem sucedido na música. 
Afinal as pessoas não mudam assim tanto. Eu não deixei de ser mimada e ele nunca gostou de estudar.

Para os curiosos, nunca nos beijámos e até hoje guardo com carinho a vela que me ofereceu no dia dos namorados.
Próximo post: Mimesis e Catarsis