sexta-feira, 11 de maio de 2012

Acerca do Poliamor

No outro dia, há menos de uma semana, conversava com A. acerca da possibilidade de podermos amar alguém para além da pessoa com quem namoramos. A minha opinião foi determinada e explícita: não podemos. É impossível amarmos alguém que não seja uma pessoa. Sempre me convenci disto e condeno - mesmo agora - severamente uma traição, seja ela de que índole for (para além de que a minha capacidade de perdão é bastante limitada). Ontem voltámos a tocar no assunto, já não sei bem a que propósito, mas a conclusão foi a mesma. O amor está só condensado e trabalhado entre duas pessoas. Se aparecer uma terceira, é infidelidade e a relação acaba.

No dia de hoje, acordei com uma gripalhada de todo o tamanho, calor e a vontade de estudar a tender para o menos infinito. Toca de abrir facebook, quando me deparo com uma reportagem do P3 - coloco links no final do post - acerca do poliamor. Que caramba! Eu que tenho a mania que tenho ideias formadas sobre tudo e que nada me pode demover - convencida, verdade -, apercebo-me que nunca tinha pensado realmente a sério sobre o assunto. Resultado: acabei por ler a reportagem, estive em todos os links sugeridos e links dos links, adicionei as pessoas que tinham decidido dar a cara no facebook e toca de investigar sobre um assunto que era, nitidamente, um preconceito na minha cabeça. É claro que durante umas três ou quatro horas não abri um único apontamento, mas isso não interessa nada.

A primeira pessoa que nos aparece na reportagem é o Daniel. Curiosamente, eu conheço esta pessoa de manifestações, mas nunca me tinha perguntado que estilo de vida amorosa leva. Aliás, verdade seja dita, nunca nos perguntamos se a pessoa x namora com duas, três ou vinte pessoas. 
Este rapaz, professor universitário, namora com duas raparigas e pelo que percebi, fazem parte do PolyPortugal, um blog que explica de uma forma muito descontraída acerca do que é isto de poliamor. Segundo ele, é realmente possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. 
Perguntei-me: mas o que é que tu, Laura, sabes sobre amar duas pessoas? Se é verdade que até agora nunca me aconteceu, não significa que não me vá acontecer um dia e, mais do que isso, não significa que não aconteça a outras pessoas! Se eu agora sou monogâmica e se não quero mais ninguém na minha relação, isso não é sinónimo para que um dia não o seja. Como é que algum dia eu pude ter cabeça para julgar quem ama quem, de que forma? Se a relação funciona a dois, a três a quarenta mil, why not? Ainda por cima, dado tudo o que eu defendo sobre LGBTTQ (lésbicas, gay, bissexuais, transgéneros, transsexuais e queer). Fiquei decepcionada comigo.

Entretanto, li alguns comentários sobre os possíveis filhos das constelações - nas relações poliamorosas, não se chama casal e, a meu ver, para além de muito mágico, o nome constelação assenta que nem uma luva na relação - que iam sair traumatizados, bla bla bla. A história acaba por ser a mesma do que nos casais gay, mas com um lado bastante mais positivo: há mais uma pessoa para ajudar a tratar e a educar a criança. Porque convenhamos: qual é a mãe que não anseia por mais uns braços enquanto o marido ressona, para a ajudar a cuidar do crianço que não se cala? Na verdade, o único aspecto negativo que vejo é o de as criancinhas serem gozadas na escola, mas quanto a isso, nada se pode fazer, já que qualquer criança é gozada por qualquer coisa que não seja a orientação sexual ou estilo de relação que os pais levam.

Para finalizar, gostava de explicar que não estou a apoiar que as pessoas andem aí feitas prostitutas a andar de um lugar para o outro a ter trezentas relações ao mesmo tempo e só porque elas sabem todas umas das outras, está bem. Estou a dizer que, embora isto possa acontecer, o sentimento de amor não tem que ser exclusivo a uma pessoa - embora, repito, para mim sempre tenha sido e neste momento, é - e se isso acontece com mais Daniéis do que se pensa, então força! Na verdade, o que queremos todos é ser felizes e se essa felicidade não puser em causa a felicidade de outros - nã nã, não me venham com o argumento de que as crianças vão ser infelizes! Ler o parágrafo acima! - então não há o mínimo problema.

Também não estou a apoiar a infidelidade. Antes pelo contrário! Estou a defender que uma relação pode ter 'pés e cabeça' se todos souberem de todos e se todos CONCORDAREM com o tema em questão.

Hoje sinto-me uma pessoa mais aberta, mais tolerante e sobretudo, feliz por constatar que as opiniões mais cerradas são possíveis de mudar. Basta informarmo-nos um bocado sobre o assunto :)

Abaixo coloco os links que consultei. 
Site PolyPortugal (basicamente neste site estão reportagens, debates e textos de apoio que direccionam para outros sites interessantes. Vale mesmo a pena dar uma olhadela, que explicam muito melhor que eu.)

E se por acaso algum dia for preciso dar a cara pela causa, digo já que não tenho o mínimo problema - agora sinto-me uma espécie de convertida a uma religião em que tudo é fantástico, mas claro que não é disso que se trata.
Próximo post: Mimesis e Catarsis