Amanhã começam as aulas de espanhol às 8.30 da manhã! Fantástico. Vou ter um óptimo (espero!) manual de espanhol e um caderno de exercícios! Há tanto tempo que não aprendo uma língua, que estou com um entusiasmo acima da média. Estrear um caderno novo, estar numa sala de aula durante duas horas com mais uns quantos ignorantes em Espanhol como eu é maravilhoso ahah! Até parece o início das aulas. Portanto, no próximo mês os meus dias vão ser HUGE, sendo que todos os dias vou começar por essa hora. A seguir vai seguir-se ginásio: duas horinhas a malhar que nem louca. Isso sim, faz-me feliz. E tudo despachado antes das 13.00h, de maneira que tenho a tarde tooooooda livre para passear, combinar almoços, jantares, lanches e essas coisas todas.
Por acaso, estar em Lisboa de férias é o melhor que se pode querer. Bom, não é o melhor, mas é bastante melhor do que eu esperava. É demasiado quente, mas pelo menos tenho visitado mais museus, galerias de arte e bairrozinhos que sei lá o quê. E ando, ando, aaaannndddooo, passeio imenso, oiço muita música (o que dá para ir conhecendo cantores novos, já que tenho quase sempre os phones nos ouvidos) e leio com fartura. Dou por mim a chegar a casa por estas horas, só porque estive ocupada a passear. É bom, sabe-me bem e sinto que é uma espécie de recompensa depois de um ano de trabalho árduo. Fazendo um balanço, sinto que o meu nível de felicidade durante este ano esteve entre os 90% e os 100%. Foi um ano tão feliz, que me posso dar ao luxo de gritar aos quatro ventos. Embora tenha corrido bem a nível académico, não é por isso que o considero fantástico. Considero sim, porque conheci pessoas que não esperava conhecer, conheci autores que me abriram horizontes, percebi que se pode ter colegas muito chegados e que só dois ou três se transformam em amigos, percebi que não faz mal faltarmos a uma aula para irmos a uma conferência, só porque achamos que vamos aprender mais noutro sítio e... mais uma série de coisas. Quando me falavam na fase de adaptação, eu achava que era treta, que ultrapassava isso num instante. Pois posso dizer com precisão que demorei exatamente Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro a adaptar-me à faculdade. Engraçado, tantos meses... E isso refectiu-se no modo como eu estudei, no modo como encarei amizades e mais não sei o quê.
Custa-me muito ver pessoas infelizes. Considero, muitas vezes, que só precisam de alguém com quem falar. Não precisam necessariamente que os seus problemas estejam resolvidos, mas ouvir uma outra opinião sobre eles pode dar-lhes algum descanso, alguma certeza (se é que as há) no momento da tomada da decisão. E é ridículo, cada vez mais, percebermos que as pessoas recusam ajuda por orgulho. O que estou a dizer é fundamentado. Li algures (julgo que foi na Science online, mas já estive a procurar o artigo e não o encontrei) que tinham feito a seguinte experiência: deram um determinado trabalho a dois grupos de pessoas. Um deles era constituído por pessoas que viviam nos subúrbios, com familiares e com um emprego em que tinham que estar em contacto com pessoas permanentemente. O outro era constituído por pessoas que viviam no centro de Nova Iorque, que viviam sozinhas e que trabalhavam em cubículos individuais. A ambos os grupos foi fornecida ajuda de peritos, que só entrava em acção quando alguém pedisse. Os investigadores sabiam à partida que o trabalho que lhes tinha sido dado não ia ser bem sucedido se não houvesse a ajuda dos peritos.
Pois os resultados: o grupo dos sozinhos demorou mais de uma hora para pedir ajuda. O outro grupo, um quarto de hora depois pediu ajuda. O que é que isto nos diz da nossa sociedade?
Penso que se tenta desenvolver a autonomia desmedidamente. Não é eficaz, numa empresa, termos alguém disponível para nos ajudar e não lhe pedirmos ajuda. E julgo que esse desenvolvimento da autonomia está ligado às profissões mais científicas. Claro que não lhes tiro o mérito, mas que é gerada frustração e mau estar, é. E é aí que eu quero chegar: se não tentássemos - com a desculpa do orgulho - fazer tudo sozinhos quando temos alguém ao nosso lado que nos pode tentar ajudar, talvez o nosso nível de felicidade aumentasse.
E foi esta a lição que aprendi este ano. A cooperação é necessária. E por isso, deixou de fazer sentido para mim aquelas fichas que se preenche ao longo de todo o ensino básico e secundário onde nos perguntam, na nossa auto-avaliação, o que achamos da nossa "autonomia". Sempre quis pôr o máximo da escala. Pois agora, queria ficar exatamente no meio.
A faculdade é uma coisa fantástica.