sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O que fica

Tive em tempos uma amiga que era muito minha amiga. Fazíamos tudo juntas, era impressionante. Eu era o escape dela e ela era o meu. A determinada altura, por razões que pouco interessam, começámos a afastar-nos e a deixar, aos poucos, de falar uma com a outra. Propositadamente, da minha parte. Ela começava a chatear-me, começava a ser aborrecido estar com ela, a responder às suas mensagens, a sequer atender-lhe o telefone. Assim que via o seu nome no meu telefone, aborrecia-me automaticamente.
No outro dia, como que por acaso, encontrei-a na rua. Ela vinha lá ao fundo, com o casaco preto que sempre usava, cabelo escorrido e franja curtinha. Andava num passo rápido, como que preocupada com alguma coisa. Cruzámo-nos e ela não me reconheceu. Eu voltei para trás e toquei-lhe no ombro. Olhámo-nos e nem uma palavra dissémos. Reencontrei as saudades dela em mim e pensei que ambas tínhamos mudado tanto em tão poucos anos.

Ainda me vi no seu olhar.
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