domingo, 29 de abril de 2012

O rapaz do café

Há um rapaz que está sentado no sofá à minha frente, no café. Veste umas calças brancas, de ganga, um blazer preto às riscas verticais finas e brancas também e exibe o ar descontraído que a t-shirt lhe confere. É novo, não tem mais que vinte e cinco anos. De vez em quando, beberica o café e come um bolo. Se fosse português, provavelmente beberia um galão e um bolo de arroz. Escrevinha num caderno A4, com uma capa tão estilosa como ele. É bonito. 
As linhas da sua cara e a boca fina exibem concentração forçada. Tenta escrever, mas não consegue. Às vezes olha para mim, mas não faz ideia que escrevo sobre ele. Procura qualquer coisa na agenda ou num livro de design. Bebe outra vez café e neste momento estou a perguntar-me que raio se passa ali. Olha para as horas, põe um bocado gigante de bolo na boca, faz bochechas, molha com café, engole. Respira fundo, muda de página e recomeça.
O ar cheira a canela e eu em vez de estudar, estou a escrever sobre o desconhecido com estilo que está à minha frente no café. Põe açúcar. Levanta-se, pousa o caderno.
Espreito.
Afinal está a desenhar. A mesa que nos separa, o chão e o meu pé.

Próximo post: Mimesis e Catarsis